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Mostrando postagens de julho, 2018

Uma comédia romântica

Às vezes a vida cria situações improváveis, em lugares improváveis e com pessoas improváveis e dá tudo certo. Prova disso é o nosso casamento. Nos conhecemos em uma igreja. Eu não estava procurando ninguém, mas você com certeza me achou. Seus olhos desviaram-se da leitura bíblica e passaram a tentar ler a minha mente. Obviamente Deus não disputa espaço com os feromônios. Depois de algumas cantadas resolvi aceitar sair com você para te dizer que seríamos apenas amigos. Realmente eu não te conhecia. Nem a esfirra de espinafre me deu força suficiente para me opor à pessoa mais insistente da Terra. Finalmente começamos a namorar... Num velório. Até hoje isso é uma piada na sua família. Mas seria piada em qualquer família. Quem começa a namorar num velório? Acontece que eu não podia mais resistir às suas investidas. Senti que Deus estava me dando uma oportunidade de colocar na minha vida uma pessoa especial e oportunidade a gente não pode deixar passar. Além disso, naquele

O olhar do menino

Levi e Joel debatiam arduamente sobre questões complexas de sua religião no Templo de Jerusalém. Era páscoa e a cidade estava cheia de gente pra todo lado como toda cidade em dia de festa. Porém os dois velhos sábios logo se deram conta de que sua conversa era atentamente acompanhada pelos olhos arregalados de um menino. Na tentativa de ironizar o garoto, Levi perguntou-lhe com um sorriso sarcástico: - O que você acha? Para a surpresa dos dois velhos, o garoto respondeu: - Nossa Lei diz para amar os amigos e odiar os inimigos, porém Deus faz nascer o sol sobre justos e injustos e faz a chuva cair sobre justos e injustos. Portanto eu digo que devemos amar os nossos inimigos para que sejamos verdadeiramente conforme a imagem e semelhança de Deus. Joel e Levi se entreolharam abismados pela coerência na resposta daquele simples menino. E não somente pela resposta, mas pela audácia em questionar a Lei de Moisés. Na tentativa de instruí-lo, Joel o questionava. O menino, c

Luiz e os loucos

Era uma vez um mundo de loucos. Cada habitante tinha uma síndrome diferente, um tipo de TOC, uma paranoia. Mas uma doidice era a mais comum de todas: A maioria dos moradores desse mundo era um acumulador compulsivo. Em cada casa havia uma média de dezoito gatos, quatorze cachorros e tantos objetos que mal se podia circular dentro delas. Também era difícil circular pela rua. Acontece que ninguém jogava o lixo fora de modo que em cada quintal havia um aterro particular de onde catadores eram enxotados à vassouradas. Nem os ratos entendiam o que se passava. Todavia, nesse mundo, existia uma pessoa normal. Uma pessoa sadia que não possuía nenhuma mania sequer. Andava e falava normalmente, sem fazer caretas ou gritar. Seu nome era Luiz. Ele não era agressivo ou catatônico. Não delirava e nem acumulava coisas. Tinha o suficiente para viver e estava satisfeito. Além disso, era gentil com os demais, ajudando-os em suas dificuldades. Apesar disso, Luiz não era bem visto. Em sua ausênc

Juarez fala com Deus

Na sala de espera celestial, Juarez aguarda ansiosamente para o seu encontro com o criador. - O que devo dizer primeiro? Sussurra consigo mesmo. - Devia ter trazido algo! Pondera. Finalmente a secretária o chama. É o grande momento. Juarez fica em pé, ajeita a gola da camisa e coça a garganta. Tudo tem que estar perfeito. Ao entrar na sala cintilante, Juarez se ajoelha reverentemente.                 - Puxa uma cadeira, fica à vontade. Diz Deus.                 - O Senhor é muito diferente do que eu imaginava. Replica sem graça.                 - É o que todos dizem. Sorridente, Deus se assenta de frente com Juarez e como de costume, lhe dá as boas vindas.                 Então Juarez emudece. Calado fica e calado permanece. Petrificado de olhos arregalados, não pronuncia uma só palavra. Na sua mente, nada. Um vazio total e absoluto do que dizer ou fazer.                 Há poucos instantes havia tantas perguntas, agradecimentos, algumas reclamações (será que