Uma comédia romântica
Às vezes a vida cria situações improváveis, em lugares
improváveis e com pessoas improváveis e dá tudo certo. Prova disso é o nosso
casamento.
Nos conhecemos em uma igreja. Eu não estava procurando
ninguém, mas você com certeza me achou. Seus olhos desviaram-se da leitura
bíblica e passaram a tentar ler a minha mente. Obviamente Deus não disputa
espaço com os feromônios.
Depois de algumas cantadas resolvi aceitar sair com você
para te dizer que seríamos apenas amigos. Realmente eu não te conhecia. Nem a
esfirra de espinafre me deu força suficiente para me opor à pessoa mais insistente
da Terra.
Finalmente começamos a namorar... Num velório. Até hoje isso
é uma piada na sua família. Mas seria piada em qualquer família. Quem começa a
namorar num velório? Acontece que eu não podia mais resistir às suas
investidas. Senti que Deus estava me dando uma oportunidade de colocar na minha
vida uma pessoa especial e oportunidade a gente não pode deixar passar.
Além disso, naquele momento eu estava dividindo o apartamento
com um sujeito muito estranho e comendo minha própria comida, tinha que fazer
alguma coisa.
Nosso período de namoro foi bem romântico. Gostávamos de
passear nos parques da cidade, ignorando os mendigos e maconheiros, escrevemos
as nossas iniciais em uma árvore ao lado de outras pichações. Tudo estava
perfeito porque eu estava com você. É isso que acontece quando estamos
apaixonados, só temos olhos um para o outro.
Nos casamos na primavera debaixo de uma chuva
torrencial. Ainda bem que a garagem onde
aconteceu o churrasco era coberta. Uma doida estava gritando na casa da frente,
mas tudo bem, a gente aumentou o som. Lembro-me que você precisou até fazer o arroz.
Quem faz o arroz do próprio casamento? Uma pessoa encantadora.
O seu encanto não é aquele encanto europeu e perfeitinho das
princesas dos contos de fadas. Você ri alto e corre pra não fazer xixi nas calças.
Você toma banho cantando e errando a letra da canção. Você me chama pra conversar
quando está fazendo cocô. E é exatamente por isso que a gente se entende.
Se o amor fosse feito de histórias perfeitas com pessoas
perfeitas o príncipe Charles e a princesa Diana não teriam se separado. O
presidente Bill Clinton não teria traído a primeira dama Hillary. Na verdade,
nós sabemos o que esses casais famosos não sabem. O amor é algo que acontece
quando duas pessoas decidem viver juntas mesmo contra todas as possibilidades.
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