Luiz e os loucos


Era uma vez um mundo de loucos. Cada habitante tinha uma síndrome diferente, um tipo de TOC, uma paranoia. Mas uma doidice era a mais comum de todas: A maioria dos moradores desse mundo era um acumulador compulsivo. Em cada casa havia uma média de dezoito gatos, quatorze cachorros e tantos objetos que mal se podia circular dentro delas. Também era difícil circular pela rua. Acontece que ninguém jogava o lixo fora de modo que em cada quintal havia um aterro particular de onde catadores eram enxotados à vassouradas. Nem os ratos entendiam o que se passava.

Todavia, nesse mundo, existia uma pessoa normal. Uma pessoa sadia que não possuía nenhuma mania sequer. Andava e falava normalmente, sem fazer caretas ou gritar. Seu nome era Luiz. Ele não era agressivo ou catatônico. Não delirava e nem acumulava coisas. Tinha o suficiente para viver e estava satisfeito. Além disso, era gentil com os demais, ajudando-os em suas dificuldades.

Apesar disso, Luiz não era bem visto. Em sua ausência, todos cochichavam a seu respeito.
- Coitado do Luiz, tão maluquinho! É o que diziam.

Por isso, em uma bela manhã de domingo quando os passarinhos cantarolavam nas janelas anunciando a chegada da primavera, os habitantes daquele mundo de loucos decidiram interna-lo. Em sua porta parou uma ambulância com dois enfermeiros esquizofrênicos. Arrastaram-no pelo pé e levaram-no até o sanatório mais próximo. Lá, Luiz encontrou outros como ele. Pessoas inteligentes e criativas. Gente muito interessante e boa de papo. Todos concordavam que aquele mundo estava às avessas e planejavam uma revolução. Uma pena as conversas sempre serem interrompidas abruptamente por um choque elétrico nas costas.

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