O olhar do menino
Levi e Joel debatiam arduamente
sobre questões complexas de sua religião no Templo de Jerusalém. Era páscoa e a
cidade estava cheia de gente pra todo lado como toda cidade em dia de festa. Porém
os dois velhos sábios logo se deram conta de que sua conversa era atentamente
acompanhada pelos olhos arregalados de um menino.
Na tentativa de ironizar o
garoto, Levi perguntou-lhe com um sorriso sarcástico:
-
O que você acha?
Para a surpresa dos dois velhos,
o garoto respondeu:
-
Nossa Lei diz para amar os amigos e odiar os inimigos, porém Deus faz nascer o
sol sobre justos e injustos e faz a chuva cair sobre justos e injustos.
Portanto eu digo que devemos amar os nossos inimigos para que sejamos verdadeiramente
conforme a imagem e semelhança de Deus.
Joel e Levi se entreolharam
abismados pela coerência na resposta daquele simples menino. E não somente pela
resposta, mas pela audácia em questionar a Lei de Moisés. Na tentativa de
instruí-lo, Joel o questionava. O menino, contudo, seguia respondendo com a
serenidade de uma mãe ensinando crianças pequenas.
Lá pela
terceira ou quarta réplica o pequeno permanecia imbatível do alto dos seus doze
anos contra aquele respeitável ancião. Neste ponto, Levi não se conteve e
mandou que o menino se calasse erguendo a mão para esbofeteá-lo. Foi quando José
e Maria, pais do menino, entraram no Templo desesperados a sua procura:
- Jesus! Disse Maria
alternando o olhar entre o menino e o velhote.
- É seu filho? Disse Levi abaixando
a mão disfarçadamente. -
Que criança inteligente. Completou.
Enquanto
a humilde família saía do Templo, aqueles dois anciãos permaneciam em seus
lugares. Suas mentes, entretanto, já não estavam mais ali. Uma nova e
pertinente consciência subvertera suas bases teológicas. Para Joel, uma nova e
melhorada perspectiva de Deus e da espiritualidade, mais humana e acolhedora.
Para Levi, uma ameaça ao seu posto de educador que devia ser extinta antes de
crescer.
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