Cachorro


Cachorro não pode ser muito bem educado.
Tem uma cena no filme “Bolt” que deixa isso muito claro. Pra quem não viu, uma atriz mirim contracena com um cãozinho chamado bolt em uma série de TV. Lá pelas tantas, o cachorro se perde e a produção do programa encontra outro cachorro para substituir. Só que a criança percebe que não é mais o mesmo cachorro na hora, porque um adestrador faz um sinal e o cachorro senta roboticamente.

Ocorre que o bolt original era um cachorro normal que, inclusive, acreditava na trama da série. A naturalidade do cachorro era o segredo do sucesso. Óbvio, nada mais legal do que ver um cachorro sendo cachorro. Isto é, agindo naturalmente, perseguindo o próprio rabo, mordendo alguma coisa, latindo, lambendo as partes... Não, lambendo as partes não, isso é nojento mesmo.

 Esses cães super adestrados são bizarros. Outro dia vi um desses especialistas em educação canina falar num programa de TV: “Não cumprimente o cachorro ao chegar”, “Não se despeça quando sair”, “Trate o cachorro como um animal”. Daí eu pergunto, qual a graça de se ter um cachorro então?

Cachorro tem que ser meio mal-educado. Tem que pensar que é gente, roubar uma roupa do varal, mordiscar um sapato, latir para os gatos, tentar fugir de casa, uivar para os relâmpagos, subir onde não deve, pular na gente, estranhar as visitas e depois de ouvir uma bronca, pedir desculpas com aquele olhar de cachorro.

Cachorro de verdade urina nas coisas, destrói plantas, pede um padeço do que você está comendo, bebe água do vaso sanitário, peida, fede, baba (isso não tem adestramento que resolva), cava buracos, persegue insetos, arranja briga, pinta e borda (essas duas últimas são força de expressão).

O barato de se ter um bicho de estimação é a interação. Um cachorro que só responde a comandos não é diferente de um computador. É melhor comprar uma pelúcia. O que faz de nós, criaturas vivas, interessantes é justamente a espontaneidade. É surpreender e ser surpreendido.  É cativar o outro e ser cativado por ele. É dar e receber atenção. Um bom cachorro incomoda às vezes e é esse incômodo que preenche aquele espaço vazio na casa e na rotina de uma pessoa. Justamente por isso que o cachorro é uma companhia perfeita.

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