O mendigo e o vira-lata

Em meio à catástrofe social da nossa sociedade, surgem gestos e fatos que comovem e me devolvem a esperança na humanidade.

Um exemplo disso é quando um mendigo adota um vira-lata. Acho isso bonito de muitas formas (apesar de também ser triste).

Primeiro, porque um mendigo que mal tem como se sustentar adota um outro ser vivo para sustentar. Talvez por ambos se virem na
mesma situação eu acho. Até porque não é só o mendigo que adota o cachorro como também
o cachorro que adota o mendigo. Existe uma solidariedade mútua. Um oferece companhia e o
outro retribui com suas migalhas.

Onde quer que o mendigo vá, o cachorro o segue e onde quer que o mendigo deite o cachorro deita. Normalmente apoiando a cabeça sobre o dono. Isso não é só um gesto de carinho do bicho como também uma forma de manter ambos aquecidos nas noites frias.

Instintivamente heróico, o amigo de quatro patas late ao primeiro sinal de ameaça ao seu humano. Nada que um cafuné atrás da orelha não pague.

O cão lhe lambe as feridas, o
dono lhe afaga a barriga. Se o cão morrer, o dono chorará. Se o dono morrer o cão pranteará.

Cada resto de comida encontrado no lixo é repartido em dois. Até mesmo uma apetitosa e rara coxa de frango. A carne fica para um e os ossos para o outro, como num
acordo de cavalheiros.

O mendigo, que não encontra uma colocação no mercado de trabalho, é agora tutor, veterinário e adestrador do vira-lata. O canino, por sua vez, é cuidador, segurança e terapeuta
de seu novo dono.

Poucas relações são tão sólidas e duráveis. Poucas amizades, tão
verdadeiras.

Me pergunto quantos ricos já provaram tamanha alegria.
De fato para quem não tem nada, o pouco que tem é muito, e para quem tem muito, o muito que tem é nada. Nesse mundo invertido, há pobres lutando pela vida e ricos saltando
para a morte. Acontece que para o espírito, os valores são outros.

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