Capitão bondade

Capitão bondade era um super-herói diferente.
Absolutamente incapaz de ferir alguém, mesmo em defesa própria.
Ele andava pelas ruas fazendo apenas gestos de bondade e ensinando as pessoas o caminho do bem.
Ninguém lhe dava muito ouvidos, mas gostavam de desfrutar o benefício de seus poderes
fantásticos.
Certa feita, ele entrou em um albergue e sarou as feridas de um velho pedinte. Em outra, curou os hematomas de uma prostituta que havia sido espancada e deixada na sarjeta.
Um dos casos mais comentados foi quando ele fez aparecer dinheiro na meia de um menino órfão que era extorquido pelos pais adotivos. O garoto havia perdido o dinheiro das esmolasem uma aposta e, provavelmente, seria surrado pelo tutor se voltasse de mãos vazias.
Mas nem todos gostavam do Capitão bondade. Seus atos incomodavam aqueles que se
favoreciam das mazelas alheias.
Conta-se que um político famoso, vereador da cidade, angariava muitos votos em troca de
favores a pessoas pobres da comunidade. Dona Júlia, eleitora fiel, distribuía santinhos em troca de uma cesta básica toda campanha. Um dia o capitão foi à casa da pobre senhora para curar a sua catarata em estágio avançado. Após conversar com dona Júlia, o Capitão Bondade explicou-lhe que ela teria direito a uma cesta básica, sem precisar distribuir santinhos pra
ninguém e que isso era um crime.
Aos poucos, o Capitão ia abrindo os olhos dos oprimidos e, indiretamente, ajudando a divulgar
o que acontecia nos guetos.
Ninguém gosta de publicidade ruim, especialmente um político. Então, o “nobre” vereador entrou em contato com seu primo que tinha um amigo que conhecia o chefão do tráfico o qual lhe devia um favor. O traficante e seus comparsas também não simpatizavam com o nosso
herói, pois ele atrapalhava os negócios.
De manhã bem cedo, numa sexta-feira, quando o Capitão bondade preparava-se para sair em socorro dos mais fracos, um sedan preto (é claro que tinha que ser um sedan preto) parou emfrente ao seu barraco e o fuzilou.
Mas a bondade do Capitão não morreu com ele. A força de seus atos simples transformou a consciência daquelas pessoas que não se deixaram oprimir novamente. Elas agora andavam com as próprias pernas na trilha deixada em sua comunidade e em suas vidas. A força do exemplo deixado pelo capitão inspirava a todos. Sua luta pacífica em favor das pessoas mais
indefesas, trouxe esperança e coragem.
O bem, às vezes precisa de um herói para aparecer e se fortalecer. Mas é quando ele se espalha e contagia as pessoas comuns que se torna avassalador na luta contra as forças domal.

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