Charlene
Eu devia ter uns 10 anos, meu pai
acordava cedo pra fazer o café e comprar pão.
Um dia ele esqueceu o leite no
fogo e saiu para comprar o pão. Você pode deduzir que o leite derramou apagando
o fogo e fazendo aquela fumaceira. Quando eu acordei pensei que fosse um
incêndio. Corri para a cozinha e desliguei o gás.
O mais engraçado e todo mundo
ficou comentando foi que eu salvei a periquita. Calma, nós tínhamos uma
periquita de estimação chamada Charlene (em homenagem à personagem da série “A
família dinossauro”).
Subi na cadeira, tirei a gaiola
do prego e levei lá pra fora aproveitando de deixar a porta aberta para a
fumaça sair. “Um verdadeiro salvamento” comentavam à minha volta. “Isso é uma
atitude heroica de verdade!” continuavam.
Eu a essa altura já estava me
sentindo o Batman. O grande salvador de periquita. “Salvei minha periquita”
dizia aos meus coleguinhas na escola. "O nome dela é Charlene" prosseguia.
Ninguém achava estranho até a
adolescência. Na adolescência eu já não podia mais me gabar do grande feito
porque periquita é uma palavra muito conotativa para um adolescente (e alguns
adultos também).
Infelizmente algumas glórias da
infância vão ficar para sempre na infância. A Charlene teve uma vida longa
depois daquele episódio e tenho certeza que hoje em dia, lá no céu dos periquitos,
onde ainda existe pureza, ela se gaba pra todo mundo do dia em que foi salva.
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