Assalto

Já tem um tempo desde a última vez que fui assaltado. Era pra lá de dez horas. Eu estava sozinho no ponto de ônibus na Vila Maria depois de uma noite de trabalho. O comércio já estava fechado e não havia uma viva alma em qualquer direção que se olhasse. Senti um pouco de culpa por não ter evitado aquela situação. Quem mora em São Paulo já fica com a pulga atrás da orelha.
O assalto comigo é sempre do mesmo jeito: O ladrão anuncia o assalto, eu dou o dinheiro e ele vai embora. Sem reação, sem susto, sem desespero. Nunca pensei sequer na possibilidade de morrer. O cara quer o dinheiro, e eu, como sempre ando com uns trocados rasos, não faço nenhuma questão. Vou, entrego e pronto.
O que ele vai fazer com aquilo? Comprar uma pedra? Na verdade, dou o dinheiro com um pouco de compaixão. O desgraçado não consegue nem bancar a merda do vício. Ainda por cima, assalta alguém no ponto de ônibus, ou seja, um pobre. Esse aí nem no crime tem futuro.
Eu tenho, além dos trocados, um futuro, um passado, sonhos, perspectivas, trabalho, dignidade.
Há pessoas que por causa de pouco, arriscam muito. Felicidade é saber perder um pouco para preservar o que não tem preço. Perder uns trocados, perder a discussão, perder a briga.
A felicidade só pode ser perdida por aqueles que não estão dispostos a perder.


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