Graça

Ela se odiava. Odiava sua imagem, seu peso. Sua cor. Odiava o modo como viva. Sua casa, suas roupas. Se odiava pelos amigos que não tinha, pelos lugares que não frequentava, pelo amor que não veio. Mas principalmente, por todos aqueles que vieram e partiram, deixando-a fragmentada, fragilizada, enfraquecida, grávida. Sua família não aceitava. Queria ser a família perfeita. O que, na prática, significa não ter nenhum pecado aparente. E o pecado como na história, reverbera em d...ores de parto.
Ela culpava a todos, culpava os homens, culpava o mundo e se culpava. E a culpa, de nada adiantava, só doía e doía dilacerando-a de dentro para fora. Até que chegou a Graça. Com seus olhinhos de jabuticaba já abertos. A menor boquinha do mundo em busca das tetas grandes demais de sua mãe. Graça não se importava com isso, não se importava com nada. Sua mãe era seu mundo, tudo o que ela conhecia e bastava. Seu amor não tinha preço e não custava nada. Tão pequena, tão frágil, tão inocente, tão pura. Por isso amava. Porque o amor verdadeiro é feito do mesmo material que os bebês: Fragilidade, inocência, pureza.
Então ela descobriu: Descobriu que é na fragilidade que encontramos nossa verdadeira força. Descobriu que só um inocente tem autoridade para absolver o culpado. Que é a pureza que cobre os pecados e não o contrário. E que esse é o único jeito de se amar alguém.

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