Marajá

Estive pensando sobre como é ser um marajá. Viver de sombra e água fresca. Acordar tarde, dormir a hora que quiser, não ter que trabalhar um dia sequer. Deitar na rede ao entardecer com um drink na mão, chinelo no pé. Me espreguiçar gostoso. Bocejar até as orelhas estalarem.
Sem preocupações, sem compromissos, sem horários, sem agenda, nada. Assistir TV até os olhos arderem. Dormir e só levantar quando sentir fome, comer e tirar uma pestana para fazer digestão. Sair por aí sem ter para onde. Dia após dia fazer nada vezes nada. Nada para hoje, nada para amanhã...
Eu trocaria o dia pela noite só por ver. E destrocaria quando enjoasse. Aliás, enjoar é o que eu mais faria. Enjoado de ficar em casa, sairia. Enjoado de sair, voltaria. Enjoado de ficar parado, caminharia. Enjoado de caminhar, correria. Pensando bem, acho que enjoaria até da mamata. Inércia não é sinônimo de felicidade. Há certa dose de felicidade em ocupar-se. Acho que é por isso que dizem que Deus inventou o trabalho.
Depois de um tempo eu ia acabar arrumando qualquer coisa para fazer, com que me preocupar. Sei lá, ajudaria alguém, faria trabalhos voluntários, regaria as flores da praça, visitaria asilos, hospitais, orfanatos, pintava a calçada, serviria de vigia no bairro, levaria as compras dos vizinhos, lavaria seus carros. Por nada, pelo espumar do sabão.
Sinceramente, acho que no final eu surtaria! Xingaria o guarda só para ir preso e conhecer gente nova na prisão. Se topasse o dedo, marcaria uma consulta com um ortopedista a fim de cumprir ao menos aquela obrigação, esperar na fila, ouvir a conversa dos outros na sala de espera, daria minha opinião. Iria a velórios de estranhos, casamentos, ainda bancava o engraçado. Ficaria louco de pedra e por fim me internaria. Pensando bem, ainda bem que não sou marajá.
Felicidade é ter mais o que fazer.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O povo da garoa

Eu sou o sr. Madruga

Depois da chuva