Padaria, Olfato e Pirocóptero
Dizem que a memória olfativa pode
curar amnésia. Através dos cheiros podemos acessar lembranças muito profundas.
Foi o que aconteceu comigo essa semana.
Eu estava na padaria no domingo
de manhã, como não fazia há algum tempo porque costumo comprar o pão para dois
dias no sábado (por preguiça mesmo). Então me deparei com um cheiro que não
sentia há anos e que me trouxe uma antiga e inusitada lembrança.
Não sei explicar qual era o
cheiro, mas acho que era uma combinação de pão fresco com queijo derretido na chapa.
No domingo cedo, a padaria está lotada de gente não apenas comprando pão, mas
também tomando um cafezinho, fazendo lanches matutinos e colocando o assunto em
dia. Aquelas mesinhas vazias durante a semana, enchem nesse horário.
Em minha viagem olfativa no
tempo, lembrei-me do “pirocóptero”.
Só quem foi criança nos anos oitenta pra noventa sabe do que estou falando.
Era uma simples hélice de
plástico que vinha junto com um pirulito. Você encaixava a hélice na haste do
doce depois de chupá-lo e ele virava o memorável brinquedo. Bastava girar o
palito com as mãos que ele saía voando.
Lembrei-me da sensação de criança
ao brincar. Que alegria indizível. Um objeto tão banal, uma brincadeira tão
ingênua... Na fila daquela padaria, naquele domingo de manhã, voltei sensorialmente
à rua onde cresci. Podia sentir nos pés a inclinação da ladeira, o barulho da
padaria foi substituído pelo silêncio da rua e diante dos meus olhos, flutuava
levemente o pirocóptero.
É um barato careta. É alucinar
estando-se lúcido. Descobri uma nova droga: Cheirar padaria.
Uma imagem singela
e maravilhosa da minha infância estava lá todos os domingos me esperando. Agora
quero encontra-la mais vezes. Quero saber o que mais minha mente está
escondendo. Porque lembranças felizes não são apenas lembranças, elas trazem
consigo a alegria.
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