Juarez fala com Deus
Na sala de
espera celestial, Juarez aguarda ansiosamente para o seu encontro com o
criador.
- O que devo dizer
primeiro? Sussurra consigo mesmo.
- Devia ter trazido algo!
Pondera.
Finalmente a
secretária o chama. É o grande momento. Juarez fica em pé, ajeita a gola da
camisa e coça a garganta. Tudo tem que estar perfeito.
Ao entrar na
sala cintilante, Juarez se ajoelha reverentemente.
- Puxa uma cadeira, fica à
vontade. Diz Deus.
- O Senhor é muito
diferente do que eu imaginava. Replica sem graça.
- É o que todos dizem.
Sorridente,
Deus se assenta de frente com Juarez e como de costume, lhe dá as boas vindas.
Então
Juarez emudece. Calado fica e calado permanece. Petrificado de olhos
arregalados, não pronuncia uma só palavra. Na sua mente, nada. Um vazio total e
absoluto do que dizer ou fazer.
Há
poucos instantes havia tantas perguntas, agradecimentos, algumas reclamações
(será que pode reclamar?). Agora ele se vê ali, num momento tão esperado, tão
sonhado e não consegue falar nadinha.
Juarez
tosse, pede água.
- Eh...
As palavras
sumiram. Ele que nunca foi religioso estranhava esse temor repentino. Enquanto
Deus fitava-lhe atentamente nos olhos, Juarez começou a pensar na vida que
levara. Uma vida simples e despretensiosa. Com todos os erros e acertos de
qualquer mortal.
Pelo fato de
não ser afeito à religião, não deu dinheiro na igreja, nem frequentou as
missas. Mas não se considerava mal sujeito, pelo menos, não muito abaixo da
média. Algumas mentiras ocasionais, uma pequena lista de coisas de que realmente
se arrependia e só. Por fim chegou ao mesmo céu que sua tia Judite, velha beata,
que vivia o condenando pelo seu vício em futebol.
Juarez se
lembrou dos momentos felizes que viveu. Das brincadeiras da infância, das
namoradinhas da escola, do primeiro beijo. Da farra com os amigos, do primeiro
dia de pagamento. Lembrou-se do dia de seu casamento, que churrasco memorável e
de quando viu seu filho nascer. De olhos já marejados, vieram as lembranças
doloridas. A morte dos pais, de entes queridos, amigos tão chegados.
Suspirante e
cabisbaixo, Juarez procura secar os olhos apertando com os dedos. Ao levantar a
cabeça, Deus continua na sua frente sorrindo, porém não está mais olhando em
seus olhos. Parece mirar atrás de Juarez.
Mais que
depressa ele se vira para ver quem Deus estaria observando em suas costas. Para
a surpresa de Juarez, estavam ali na mesma sala e de braços abertos, os seus
pais, amigos e todos os queridos que o aguardavam. Juarez abraça a cada um.
Ainda sem dizer palavras, apenas rindo com euforia. Depois de cumprimenta-los,
agradece a Deus pela conversa.
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